carlos nunes_ numa noite escura um vagalume parou e pensou sobre a sua condição
14 apr - 5 jun_ 2021
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Carlos Nunes desenvolve seu trabalho como um cientista em um laboratório. Seu ateliê é um lugar de observação e experimentação. Elementos como luz, fogo, cinza e fuligem reagem com materiais diversos, obtendo diferentes resultados estéticos e conceituais. De forma recorrente, o tempo é fator determinante no trabalho. É o caso da série Datas, a qual o artista desenvolve há cinco anos e que pode ser vista na Galeria Raquel Arnaud.
Sobre a série, o artista destaca: “É um trabalho que venho produzindo periodicamente desde 2016. São papéis de seda pigmentados, nos quais faço dobras e deixo expostos à luz na janela do ateliê. Após sofrerem a interferência da luz por longos períodos de tempo, muitas vezes um ano, retiro-os da janela e guardo-os em ambiente livre de luz. Os desenhos que aparecem nos papéis são resultado das diferentes maneiras com que foram dobrados, do tempo e da quantidade de luz que incidiu sobre os papéis. Os trabalhos são nomeados de acordo com o período em que ficaram expostos à luz. Penso nessa série como um trabalho de caráter fotográfico: luz e tempo sobre papel. Vejo como sendo uma fotografia em tempo expandido, determinada pela geometria das dobras e da quantidade de luz. Não é um registro de um momento fotográfico, e sim de um longo período. Gosto de pensar que eles armazenam em si a luz desse tempo; uma contenção de tempo armazenado em luz.”
Ainda que não seja uma série inédita, é a primeira vez que é exibido um conjunto expressivo desses trabalhos, destacando as diferentes possibilidades estéticas a partir do mesmo material e do mesmo procedimento, e reforçando o papel da luz e do tempo como coautores da obra.
A exposição conta ainda com uma escultura da série Buracos Negros, sobre a qual o artista comenta: “Esta série nasce do raciocínio de que quando fechamos uma caixa ou juntamos as duas mãos fazendo com que a luz não interfira neste espaço interno, criamos um ‘buraco negro’. Isso porque um espaço onde a luz não entra se transforma em um espaço infinito que se livra da geometria da caixa ou das paredes da nossa mão. A escultura buraco negro 01 é uma construção geométrica feita em MDF, pintada de preto por dentro e hermeticamente fechada para que a luz não entre. Penso nela como uma antiescultura que possui em seu interior a potência de um buraco negro capaz de destruir a geometria externa. E acaba por pressionar também o espaço expositivo que tenta conter essa força.”
Se por um lado temos nos desenhos a interferência direta da luz, cuja ação sobre o papel causa o apagamento contínuo da matéria, na escultura temos a ausência total da luz, um lugar que se torna infinito em sua escuridão. É justamente nesse contraponto que as obras encontram um ponto de diálogo e nos propõem uma reflexão sobre tempo, espera e contemplação.
O artista está atualmente trabalhando em três exposições individuais para 2022: uma na Galeria Raquel Arnaud e outras duas em Lisboa, na Galeria 3 + 1 e no espaço Appleton.
Exposição: Numa noite escura um vagalume parou e pensou sobre a sua condição
De 12 de abril a 5 de junho de 2021
Telefone 11. 3083-6322, e-mail info@raquelarnaud.com
Galeria Raquel Arnaud
Rua Fidalga, 125 – Vila Madalena – Telefone: 11. 3083-6322
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imagens da exposição