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Biografia

são paulo_ sp_ 1969_ vive e trabalha em são paulo

http://carlosnunes.art/

Para Carlos Nunes, as pequenas coisas do cotidiano, como objetos prosaicos que habitam as casas, ateliês e ruas, ou até mesmo a luz, onipresente e silenciosa, constituem elementos inesgotáveis de pesquisa, ainda que seus trabalhos, muitas vezes, tornem visíveis justamente os processos de esgotamento inerentes à matéria. Ao estabelecer regras e procedimentos para testar hipóteses sobre as relações entre começo e fim, quantidade e intensidade, esgotamento e sedimentação, acúmulo e esmaecimento, o artista busca, através de atos investigativos sistematicamente registrados em desenhos, esculturas e instalações, extrair todo o potencial expressivo dos objetos e de suas cores. 

Carlos Nunes formou-se em Artes Plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo, e estudou na Saint Martins School of Arts, em Londres. Em 2005, mudou-se para Buenos Aires, onde trabalhou até 2007 e participou de suas primeiras exposições coletivas. Em 2008, voltou a São Paulo, onde deu prosseguimento a suas pesquisas artísticas. Fez residência em Matadero Madrid, em 2014, e no Espaço T, em Portugal, em 2016.

Realizou exposições individuais no Aomori Contemporary Art Centre (Japão, 2019); Galeria Raquel Arnaud (2013 e 2017); Museu Nacional de Soares dos Reis (Portugal, 2016); Galeria Ponce+Robles (Espanha, 2016); Centro Brasileiro Britânico (2010), entre outras. Destacam-se as exposições coletivas na Casa do Brasil (Espanha, 2018); Galeria Osnova (Rússia, 2017); Matadero Madrid (Espanha, 2014); Instituto Tomie Ohtake (2014). Suas obras são parte do acervo da Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Museu de Arte do Rio e Coleção Helga de Alvear (Espanha).

 

currículo

Exposições

Textos

Existe, no trabalho de Carlos Nunes, um modus operandi reconhecível, que perpassa toda a produção do artista e se articula em estratégias criativas sutilmente distintas entre si, contudo claramente relacionadas. O método utilizado com maior frequência é o que faz brotar a obra de um processo de esgotamento, mais ou menos demorado e articulado. É o que acontece, por exemplo, em Pastel Seco Amarelo e Pastel Seco Preto (ambas de 2013), em cada uma das quais um pastel é gasto, até o fim, dentro de um perímetro predefinido. Na obra Fita (2013), por sua vez, o que surpreende é a maneira como a fita se esparrama pelo chão e pela parede, tornando tangível e visível um elemento geométrico e arquitetônico (o canto inferior da parede, onde o chão e o muro se encontram), mas o trabalho não existiria, ou talvez existisse sem ser de autoria de Carlos Nunes, se a forma fosse definida apenas por exigências estéticas, e não pelo comprimento do rolo de fita. Em outra série (Possibilidades escultóricas de uma natureza-morta, 2012), o artista escolhe garrafas, pratos, lâmpadas, latas, rolos de fita e outros objetos e, ao combiná-los em todas as posições possíveis, cria um conjunto de esculturas efêmeras, que existem apenas o tempo necessário para realizar a fotografia que documenta a ação. As séries até aqui realizadas apontam, por um lado, para as potencialidades infinitas dessa maneira de olhar o mundo, e por outro, instauram a dúvida sobre o lugar onde a obra de fato encontra-se. Evidentemente, o trabalho não pode ser considerado uma escultura no sentido mais convencional do termo, já que os objetos são fotografados, mas apenas as fotografias passam a ser expostas. Por outro lado, o valor das imagens consiste em seu caráter de registro de uma ação, e que a escultura à qual o título do trabalho alude não existe fisicamente, mas apenas como ideia. Em outras palavras, contrariando o que poderia parecer mais óbvio, dos dois elementos centrais do título a ênfase recai exatamente na ideia de possibilidade, que o trabalho visa, por meio da escultura, tornar quase tangível.

Um discurso análogo vale para os trabalhos da série Esculturas com materiais instáveis (2012), mas nestes a estratégia criativa é mais aberta. Ao lidar com a instabilidade imprevisível de ovos e canetas, Carlos Nunes contenta-se com aproximar-se, na medida do que parece possível, do ponto de ruptura, queda ou colapso. O número de ovos empilhados é provavelmente o que esgota a potencialidade do processo, mas exigir uma prova disso, e colocar mais um ovo, poderia, evidentemente, provocar um desastre. Esses trabalhos instauram, por esse viés, um diálogo com os da série 24 canetas em diferentes planos de deslocamentos (2012-2013), em que as variações sobre o mesmo tema (basicamente, movimentos e paradas, mais ou menos rápidos ou demorados, de um conjunto de canetas coloridas sobre uma folha de papel) obedecem ainda ao desejo de esgotá-lo, mas desta vez sabendo que o número de combinações possíveis é, por definição, infinito e, consequentemente, inatingível. Como em trabalhos anteriores, a forma final do trabalho é em boa parte aleatória: o artista escolhe as canetas, o tamanho e tipo de papel e, principalmente, define, para cada um, o movimento das canetas, mas não pode ter um controle total sobre a maneira como a tinta irá penetrar no papel. É esse o aspecto mais pessoal do modus operandi de Carlos Nunes: apesar de suas obras possuírem, sempre, um apelo visual notável, o que as caracteriza de fato não é o aspecto formal, mas a maneira como as formas são construídas, ou melhor, imaginadas, planejadas e, finalmente, aceitas, sem retoques, do jeito que elas são. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que existe, no âmago da sua produção, um jeito de conceber e realizar as obras que as aproxima do universo científico, como se cada desenho, escultura ou instalação fosse, em realidade, uma experiência a ser verificada empiricamente, um teorema a ser demonstrado ou, mais simplesmente, algo a ser ainda descoberto ou inventado.

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