tuneu-dobradura

09 nov - 21 dez_2013

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Colorindo o Vazio
A Dobradura Cromática em Tuneu

As escolha de um material é um ato em si expressivo. No caso de Tuneu, a aqua- rela acompanha sua trajetória artística desde a década de setenta. Pelas suas características, tal técnica sempre incita os artistas a testar os limites impostos pela linha. Seu método consiste em sobrepor finas aguadas de cores delicada- mente misturadas. Ao sobrepor camadas cromáticas, obtém-se um efeito aéreo luminoso. O branco do papel é crucial neste caso. Nessa exposição, a espes- sura do papel Arches é de extrema importância, pois não deve nem ser liso nem granuloso demais para se criar um efeito luminoso apropriado.

A aquarela passou a ser valorizada como um meio artístico na Inglaterra no começo do século XIX. Artistas como J.M.W. Turner e John Constable, ao fugir da pintura acadêmica, cada vez mais sombria, recorrem à aquarela em busca da luz. Por outro lado, a introdução de corantes químicos produziu uma enorme transformação na palheta do pintor, que passa a conter cada vez mais cores artificiais. As cores aplicadas na pintura se distanciam cada vez mais das coisas percebidas como coloridas, são signos que se separam das cores percebidas natureza. A composição cromática mais rigorosa fez com que os artistas se apoiassem em teorias cromáticas como a de Goethe, Chevreul, Ostwald. As cores são vistas na sua dimensão fisiológica, nos efeitos que produzem internamente na retina do observador. A experiência ótica se torna mais abstrata na medida em que o os pintores, ao invés de olhar para a natureza, na busca de estímulos externos, usam arbitrariamente as cores dispostas em sua palheta a fim de expressar um estado interior. Ao invés de descrever um comportamento físico da luz, o círculo cromático se torna um recurso para explorar as dimensões fisiológicas, psíquicas e espirituais da cor. Os estudos das passagens cromáticas feitas por Goethe há cento e cinquenta anos podem assim nos ensinar a ver as pinturas abstratas com outros olhos.

Dobradura remete também a técnica japonesa de dobrar papeis que tanto in- fluenciou nosso Neoconcretismo. Como não pensar dos bichos de Lygia Clarck sem o origami? Porém, se nos relevos anteriores feitos por Tuneu a dobra era literal, agora ela aparece aqui apenas como uma ideia, algo que só se realiza na nossa imaginação. Os recortes cromáticos, que se insinuam nas dobraduras, na verdade revelam um quadrado latente, que no faz pensar na Bauhaus ou em Albers, artista célebre pela homenagem ao quadrado e seu livro A interação da Cor. Mas, creio que uma interpretação concreta ou asséptica não nos aproxima efetivamente das aquarelas de Tuneu. Além da dobradura, há nessas obras recentes sempre um espaço interno vazio, que remete a um jardim Zen de pedra. Algo que efetivamente não pode ser visto, afinal, como disse outro mestre da cor, Matisse: “as cores existem e, todavia, não existem”.

Marco Giannotti