shirley paes leme_rarear
04 set _ 19 out_2019
Com lembra Douglas de Freitas, que assina o texto desta exposição, uma das questões centrais na produção de Paes Leme “é a matéria, seja em sua transitoriedade ou nas marcas que certas ações sobre elas podem produzir, lembrando que o próprio vazio do espaço, o ar, é ele mesmo matéria”. Isso explica o fato da artista nomear a exposição de RareAr, enfatizando o “Ar” na palavra.
Em Resíduos da cidade, iniciado na década de 1980 e desenvolvido até hoje, Shirley Paes Leme remove filtros de ar condicionado de carros para realizar desenhos e composições. Esses filtros de feltro sanfonado chegam para a artista tingidos de diversos tons de cinza, resultado da fumaça filtrada na passagem do ar. Com um removedor, parte desses filtros são trabalhados, em um desenho feito pela remoção dessa matéria. “São desenhos sem marcas precisas, se constroem em manchas de degradê, entre peso e leveza. Eles explicitam o peso do ar, registram a cidade, e são eles mesmos a própria cidade impregnada”, afirma Freitas.
Já na instalação São Paulo à noite: Poema Concreto, de 2014, três estantes repletas de livros de diversos assuntos estão pintadas de negro. As únicas informações que se fazem ver são poucas palavras nas lombadas dos livros, cuidadosamente eleitas pela artista. Assim o que se constrói é um skyline, uma massa constante e similar, porém cheia de singularidades, como as cidades. “Assim como nós habitamos as cidades, no trabalho as palavras habitam o skyline, e se nossas histórias também constituem a identidade da cidade, aqui a cidade também se faz de histórias, das mais diversas possíveis, cheias de singularidades, como as cidades”.