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Biografia

crato_ ce_ 1929-2017

Escultor, gravador e desenhista, Sérvulo Esmeraldo usou técnicas e vias diferentes para criar obras que combinam geometria e experimentação, desde gravuras a esculturas monumentais, livros-objetos e, até mesmo, projetos culturais. Esmeraldo é considerado um dos precursores da arte cinética no Brasil, tendo criado, na década de 1960, os Excitáveis, objetos que reagem à energia estática do toque do espectador e que constituem um dos mais surpreendentes e inventivos trabalhos de arte cinética. Suas esculturas, oriundas da persistência construtiva do artista, frequentemente levam a geometria para além de seus limites matéricos, expandindo-se por meio de sombras e volumes virtuais que interagem com o espaço e com os diversos pontos de vista possíveis.

Sérvulo Esmeraldo iniciou-se profissionalmente no final da década de 1940, frequentando o ateliê livre da Sociedade Cearense de Artes Plásticas, em Fortaleza. Em 1957, expôs individualmente no Museu de Arte Moderna de São Paulo uma coleção de gravuras de natureza geométrica construtiva. Em seguida, ao ganhar uma bolsa de estudos, mudou-se para Paris, onde frequentou a École Nationale des Beaux-Arts e o ateliê de Johnny Friedlaender. No fim da década de 1970, retornou ao Brasil, trabalhando em projetos de arte pública que incluíam esculturas monumentais na paisagem urbana de Fortaleza, cidade para a qual se mudou em 1980 e que hoje abriga cerca de quarenta obras de sua autoria. Idealizou a “Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras”, da qual foi curador em 1986 e 1991.

Realizou diversas exposições individuais, além de participar de importantes salões, bienais e outras mostras coletivas na Europa e nas Américas, como Réalité Nouvelle, Salon de Mai, Bienal de Paris, Trienal de Milão, Bienal de São Paulo, entre outras. Sua obra está nos acervos dos principais museus do país e em coleções públicas e privadas do Brasil e exterior. Em 2011, a Pinacoteca de São Paulo organizou uma importante retrospectiva da obra do artista. É representado pela Galeria Raquel Arnaud desde 2009.

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Exposições

Textos

A importância de uma exposição na trajetória de um artista não é apenas a de reafirmar a sua presença e a continuidade de sua produção junto ao circuito a que ele pertence mas, especialmente, a de nos oferecer meios para reavaliar a extensão do seu trabalho, sua complexidade e suas ramificações.

Além de sua produção no campo da gravura e da escultura, particularmente aquela de escala monumental, a obra de Sérvulo Esmeraldo também se revela na criação de livros de artista, livros-objeto, esculturas cinéticas e pela sua atuação como agente cultural responsável por iniciativas curatoriais na cidade de Fortaleza. Essa exposição representa mais uma oportunidade de aproximação de uma obra pioneira em diversos aspectos e singular em sua abrangência, de uma produção rica e plural.

Em meados dos anos 80 o artista Eduardo Kac publicou um mapeamento cronoló¬gico das grandes vertentes e dos afluentes experimentais de uma arte de inspiração científica e tecnológica produzida no Brasil1. Por ele podemos notar o quanto o trabalho de Abraham Palatnik figurava de forma isolada no início dos anos 60. Mas para nossa surpresa a retrospectiva de Sérvulo Esmeraldo realizada em São Paulo no ano passado, apresen¬tava um objeto cinético intitulado O Escriba, uma caixa-dispositivo de 1962 onde diversas agulhas são movimentadas pela ação de forças magnéticas invisíveis, confe¬rindo a esse objeto uma performatividade única na produção artística brasileira da época.

Quando trabalhava como professor da Bauhaus, o artista húngaro Moholy-Nagy publicou um estudo intitulado “Os cinco estágios de evolução da escultura do ponto de vista do tratamento dos materiais”2, no qual ele afirmava que a evolução da escultura podia ser sintetizada da seguinte forma: do tratamento estático da massa ao movimen-to. No seu estágio mais avançado, o artista definia que a escultura cinética seria responsável não só pela inclusão do movimento real (e não mais representado) na dimensão da obra de arte, como também pela criação de “volumes virtuais” derivados desse cinetismo. A partir daí a escultura seria entendida como “o ponto médio entre o volume material e o volume virtual, entre a compreensão táctil e a compreensão visual da matéria”.

Neste contexto os Excitáveis de Sérvulo Esmeraldo, esculturas acionadas pelo espectador que estimula os elementos internos da obra pelo atrito estático, marcam a contribui¬ção desse artista ao movimento internacional da arte cinética por sua singulari¬dade e invenção, pela ausência de um motor elétrico como fonte de movimento repetitivo e regular. Nos Excitáveis “o corpo é o motor da obra”. Tal como O Escriba, eles são evidências artísticas de que os fenômenos que ocorrem no mundo físico têm a sua origem num mundo de dinâmica invisível. Ou como afirmou o artista, “(…) não posso evitar de pensar nas forças invisíveis que, por minha intervenção, foram de uma maneira ou de outra, alteradas.”3 Sérvulo adota uma “atitude artística diante da ciência” quando pesquisa e trabalha com a energia latente dos fluídos imponderáveis, com o magnetismo, ou ainda quando projeta criar um arco-íris com água espargida na região central de sua cidade. Seus Teoremas, esculturas lineares sem o relevo real, são construções geométricas que não se limitam apenas aos contornos de seu traçado material feito em aço, mas também se expandem pelo ambiente na forma de suas sombras. Com elas o lugar em que o trabalho se instala é delineado por linhas que atuam como extensões desmaterializadas da peça no ambiente. Volumes virtuais.

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