ester grisnpum_duplos os lugares
04 set - 19 out_2019
A mostra Duplos os Lugares traz os mesmos títulos de duas exposições (Os Duplos, de 1989) e (Do Lugar, de 1997) realizadas por Ester Grinspum entre os anos 80 e 90. A Galeria Raquel Arnaud reúne quatro pares de esculturas em ferro, quatro desenhos em nanquim que conversam entre si, e um desenho em bastão de óleo, síntese dos diálogos em nanquim. Já é reconhecido como o desenho é pensamento seminal na obra de Grinspum, de seu trabalho gráfico às esculturas. Sônia Salztein, em seu texto para a exposição, acrescenta: “Talvez se possa mesmo dizer que essa obra se realiza numa região indefinida entre o desenho e a escultura, e que seu desafio crucial seja manter-se numa tensão controlada entre esses dois lugares”. A mostra aponta outras questões, como diálogo e delimitação, que também marcam a produção da artista.
“No vocabulário austero, de formas elementares que se decantaram ao longo de décadas de paciente lapidação nas obras gráficas de Grisnpum – nas quais círculos cheios e vazados, barras paralelas, retângulos hachurados e jarros se distribuem num deserto branco de papel – é na maior ou menor distância entre essas formas enigmáticas que o trabalho propriamente se realiza”, afirma Salztein. Para a crítica, a constelação de signos brota lacônico demais para configurar um feixe de relações, para compartilhar um espaço comum, uma comunidade de indivíduos. “A disjunção, a distância lunar entre eles – e, inversamente, a sugestão de um fluxo de trocas que se anuncia, mas que fica permanentemente em suspenso – é parte substancial dessa obra, seja nas esculturas ou nos desenhos”. Para Salztein ainda, ”as esculturas carregam à flor da pele a mesma lógica de superfície dos trabalhos gráficos, a proximidade misteriosa com a escrita, uma proximidade que de fato silencia e desarticula a um passo da escrita”.