carlos zilio- pinturas
09 out - 19 nov_2014
Nesta exposição na Galeria Raquel Arnaud, Carlos Zilio dá prosseguimento à série apresentada no Centro Maria Antonia em 2011, exibindo trabalhos realizados em 2013 e 2014 nos quais se destaca a peculiar figura do tamanduá. A mostra reúne cerca de 10 obras em técnicas e suportes diversos, que aludem ao icônico animal, recorrente no imaginário do artista carioca desde a sua infância. “Figura da minha história familiar, o tamanduá ganha nestas pinturas uma condição quase de totem no trabalho de subjetivação operado pela pintura”, diz Zilio.
Conforme ressalta Ronaldo Brito no texto de apresentação da mostra, “as telas recentes se transformaram em lugares do tempo – elas demandam investidas sucessivas, reviravoltas inesperadas; como o sonho, não se deixam dominar, parecem perseguir um objetivo secreto.”
Para Brito, o passado inquietante, fantasmático, às vezes revelador, nos leva a enxergar coisas que jamais notamos embora vivam debaixo de nossos olhos. O crítico cita um exemplo patente e literal na obra de Zilio: uma mancha indelével, no chão de granito do corredor que conduz ao ateliê do artista, “perfeita e inexplicavelmente idêntica à forma do tamanduá em queda livre.”O artista fotografou a mancha, cujas ampliações, com intervenções de suas pinceladas, integram esta exposição.
Carlos Zilio, segundo Brito, pertence a uma geração que vivencia a inauguração da arte contemporânea no Brasil. Denominado pelo crítico como “Pós-pop”, esse grupo de artistas dispunha de um enorme leque de linguagens possíveis: da arte conceitual à interativa; das instalações às performances.
Depois de suas primeiras exposições coletivas e individuais realizadas na primeira metade dos anos 70, Zilio é convidado a participar da Bienal de Paris em 1976 e acaba por passar um período de quatro anos morando na capital francesa. Nesse momento há uma transição em seu percurso e passa a privilegiar a pintura como principal suporte de sua atividade artística. Esse movimento acontece ainda nos anos 70, antes do retorno à pintura proposto pela Geração 80.
O aprendizado como aluno de Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes da Guanabara (atual Escola de Artes Visuais do Parque Lage), também marcou profundamente o trabalho do artista. Na década de 1960, tornou-se assistente do famoso pintor, e logo percebeu que a desenvoltura pictórica de Iberê não era passível de repetição. Segundo Brito, Zilio “… tratou de tomar suas contra medidas— abandona o óleo virtuoso, utilizando, sobretudo o esmalte industrial, diversifica meios e modos para evitar que toda essa sincera agitação pictórica sugira ilusionismo de profundidade e termine, isto sim, numa franca convulsão de superfície”.
O que interessa ao artista é, sobretudo, a temporalidade que a pintura tem na história da arte. Segundo Zilio, a pintura possui uma potencialidade transhistórica. “Está no passado e no presente, permitindo sucessivas retomadas sempre carregadas de uma alta carga de expressão, e isso que me fascina”, afirma Zilio. A sua relação afetiva com o tamanduá segue essa lógica de trazer à tona questões do passado que se colocam no presente. Essa possibilidade de entrar em contato com um embate de emoções, reativando e reatuazilando memórias afetivas.