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Para a edição da ABMB 2022, a Galeria Raquel Arnaud apresenta um projeto que tem como eixo central um trabalho seminal de Lygia Clark, artista representada pela galeria até o início dos anos 1980.
Lygia presentou Sergio Camargo com um de seus primeiros “Bichos”. Em troca, Lygia recebeu de Camargo um relevo de madeira. Esta obra histórica de Lygia será apresentada pela primeira vez na ABMB, junto com um relevo “Orée”, de Camargo, de 1964 (que participou da Bienal de Veneza de 1966), celebrando essa relação de amizade e troca entre os artistas, registrada em algumas cartas de Lygia para Camargo.
Em carta a Raquel Arnaud, David Medalla, artista e crítico colaborador da Signals de Londres nos anos 1960, disse: “Lembro que quando visitei pela primeira vez o ateliê de Sergio de Camargo em Paris, em 1964, ele me mostrou a escultura de Lygia Clark (a da foto que você me enviou). Camargo disse que a obra em questão foi um ponto crucial no desenvolvimento da arte de Lygia: marcou a virada – por assim dizer – dos contrarrelevos de Lygia aos ‘bichos’, as esculturas articuladas em metal pelo quais Lygia Clark se tornou mundialmente famosa”. Medalla continua: “Lembro-me nitidamente de um comentário memorável feito a mim por Sergio de Camargo. Ele disse que a escultura em particular que Lygia lhe deu o lembrava de uma maçã em suas formas curvilíneas simples como uma maçã virada do avesso. Além disso, a maçã foi uma inspiração para o próprio Camargo. Foi quando cortou uma maçã em um ângulo que Camargo pensou pela primeira vez em usar elementos para seus relevos brancos de meados dos anos 1960. ‘Veja, Medalla’, disse Camargo, ‘as ideias flutuam no ar’, uma observação que era idêntica a uma observação que Lygia Clark me fez alguns anos depois”.
Uma das pinturas da série “Superfície Modulada”, de Lygia Clark, e um “ovo”, de Sergio Camargo, uma das últimas obras produzidas antes de seu falecimento, em 1990, completam e reforçam o diálogo entre os artistas.
O vídeo “Conversa-Acordo”, de Carla Chaim, artista nomeada ao prêmio Future Generation Art Prize em 2016, mostra um jogo constante de atração, repulsão, afeto e fusão. Outro jovem artista, João Trevisan, é colocado em diálogo com os precursores da arte cinética, Jesús Rafael Soto e Carlos Cruz-Diez. Uma obra histórica de 1969, de Soto, será exposta ao lado de uma “Physichromie” de Cruz-Diez. Ainda dentro desse universo, apresentamos uma obra de Wolfram Ullrich, artista alemão cujas esculturas em aço alteram a percepção do espectador.
Waltercio Caldas e Iole de Freitas, artistas brasileiros com mais de cinquenta anos de carreira, participantes de grandes eventos de arte, como a Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel, participam deste projeto com esculturas. Caldas, que acaba de ter uma obra incorporada ao Acervo do Centre Pompidou, em Paris, concebeu a obra “Lascaux”, em 1981, em referência ao complexo de cavernas em Montignac, na França. Uma exuberante escultura em aço, de Freitas, parte de sua nova produção, será exibida. Célia Euvaldo, outra artista com longa trajetória, também participa com uma obra recente, de 2021.
Completando as obras históricas, apresentamos a escultura “HO”, de Antonio Manuel, de 1980, uma homenagem ao artista Hélio Oiticica, e uma obra de Sérvulo Esmeraldo da série “Excitable”, de 1975, formada por peças de madeira que se movem dentro da caixa ao entrar em fricção com a energia estática do espectador.
Carlos Cruz-Diez, Jesús Rafael Soto, Sergio Camargo e Lygia Clark expuseram na Signals nos anos 1960 e, junto com Sérvulo Esmeraldo e outros artistas latino-americanos vivendo em Paris, compartilharam momentos de muita troca e experimentação, desenvolvendo séries de trabalhos que se tornariam marcantes em suas carreiras. Este projeto para a ABMB, além de sublinhar laços afetivos e de trocas entre artistas, busca também reunir artistas de diferentes gerações, combinando obras históricas e recentes, e propondo um olhar sobre os diversos desdobramentos da arte abstrata a partir da obra icônica de Lygia Clark.
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For the 2022 edition of the ABMB, Galeria Raquel Arnaud presents a project which has as its central axis a seminal work by Lygia Clark, an artist represented by the gallery until the early 1980s.
Lygia gifted Sergio Camargo with one of her first “Bichos” (“Animals”). In exchange, Lygia received from Camargo a wood relief. This historical work by Lygia will be presented for the first time at the ABMB alongside with Camargo’s 1964 relief “Orée” (artist who participated in the 1966 Venice Biennale), celebrating this friendship and exchange between the artists, which was registered in a few letters from Lygia to Camargo.
In a letter to Raquel Arnaud, David Medalla, artist and critic who collaborated with Signals London in the 1960s, said: “I remember when I first visited Sergio de Camargo’s studio in Paris in 1964, he showed me a sculpture by Lygia Clark (the one in the photo you sent me). Camargo said that the work in question was a crucial point in the development of Lygia’s art: it marked a turning point – so to speak – from Lygia’s counter-reliefs to the ‘Bichos’, the articulated metal sculptures for which Lygia Clark became world-famous”. Medalla continues: “I distinctly remember a memorable comment made to me by Sergio de Camargo. He said that the particular sculpture Lygia gave him reminded him of an apple in its simple curvilinear forms, like an apple turned inside-out. Besides, the apple was an inspiration for Camargo himself. It was when he cut an apple at an angle that Camargo first thought of using elements for his mid-1960s white reliefs. ‘You see, Medalla,’ Camargo said, ‘ideas float in the air’, an observation which was identical to one Lygia Clark made to me a few years later”.
One of the paintings from the series “Modulated Surface” by Lygia Clark and an “egg” by Sergio Camargo, one of the last works produced before his passing in 1990, complete and reinforce the dialogue between the artists.
The video “Conversation-Agreement” by Carla Chaim, an artist nominated for the Future Generation Art Prize in 2016, shows a constant game of attraction, repulsion, affection and fusion. Another young artist, João Trevisan, is inserted in the dialogue with the precursors of kinetic art, Jesús Rafael Soto and Carlos Cruz-Diez. A historical work from 1969 by Soto will be exhibited alongside a “Physichromie” by Cruz-Diez. Still within this universe, we present a work by Wolfram Ullrich, a German artist whose steel sculptures alter the viewer’s perception.
Waltercio Caldas and Iole de Freitas, Brazilian artists with over fifty years of career, participants in major art events, such as the Venice Biennale and the Documenta in Kassel, participate in this project with sculptures. Caldas, whose work has just been incorporated into the Center Pompidou collection in Paris, conceived the work “Lascaux” in 1981, in reference to the cave complex in Montignac, France. An exuberant steel sculpture by Freitas, a part of her new production, will be exhibited. Célia Euvaldo, another artist with a long trajectory, also participates with a recent work from 2021.
Completing the historical artworks, we present the 1980 sculpture “HO” by Antonio Manuel, which is a homage to the artist Hélio Oiticica, and also a work by Sérvulo Esmeraldo from the 1975 series “Excitable”, a work formed by pieces of wood which move inside the box as they come into friction with the viewer’s static energy.
Carlos Cruz-Diez, Jesús Rafael Soto, Sergio Camargo and Lygia Clark exhibited at Signals in the 1960s and, together with Sérvulo Esmeraldo and other Latin American artists living in Paris, shared moments filled with exchange and experimentation, developing a series of works that would become milestones in their careers. This project for the ABMB, in addition to underlining affective ties and exchanges between artists, also seeks to bring together artists from different generations. It combines historical and recent works, and proposes a look at the various developments of abstract art from the iconic work of Lygia Clark.