trajetória_

11 mai_2005 - 18 jun_2005

trajetória_

A OBRA DE ARTE, SEJA QUAL FOR A LINGUAGEM OU O MEIO UTILIZADO PARA REALIZÁ-LA, É A SOMA DE MUITAS ESCOLHAS FEITAS PELO ARTISTA, ADENSADAS E AMALGAMADAS COM O TEMPO E AS CONDIÇÕES DE SEU ENTORNO. UMA PRODUÇÃO ARTÍSTICA, APÓS SURGIR E DEMARCAR A QUALIDADE E A RELEVÂNCIA DAS PROPOSTAS DE SEU AUTOR, DEPENDE DA CONTINUIDADE E DA SEDIMENTAÇÃO DE UMA TRAJETÓRIA PARA FOCAR OBJETivOS, AFIRMAR CONTORNOS E EXPANDIR LIMITES. ESTA EXPOSIÇÃO TRATA DE TRAJETÓRIAS ARTÍSTICAS QUE O TEMPO COMPROVOU SEREM FUNDAMENTAIS NO HORIZONTE DA ARTE CONTEMPORÂNEA,. TRAJETÓRIAS QUE SÃO TAMBÉM PROFUNDAMENTE IDENTIFICADAS COM A TRAJETÓRIA DO GABINETE DE ARTE RAQUEL ARNAUD, EM DIÁLOGO MUTUAMENTE DINAMIZADOR. EM TRAJETÓRIA/TRAJETÓRIAS FORAM ESTABELECIDOS CONTRAPONTOS ENTRE DOIS MOMENTOS – PASSADO E PRESENTE – DE UMA MESMA PRODUÇÃO PARA DESTACAR A PERSISTÊNCIA DA ALTA VOLTAGEM CRIATIVA DE CADA ARTISTA. FICA EVIDENTE TAMBÉM QUE A COERÊNCIA INTERNA VERIFICÁVEL NESSAS OBRAS ACABA POR PROPOR E SUSTENTAR DIÁLOGOS FECUNDOS COM OS DEMAIS AUTORES PRESENTES NA MOSTRA. REVERBERAÇÕES, AFIRMAÇÕES E CONFRONTOS PARA SEREM OBSERVADOS NO SINGULAR OU NO PLURAL, EM LEITURAS LINEARES OU CRUZADAS, NA ESFERA DO MODERNO E DO CONTEMPORÂNEO. O ELENCO, EM SUA MAIORIA IDENTIFICADO COM A TRADIÇÃO CONSTRUTIVA, ENVOLVE TAMBÉM A ARTE CINÉTICA, ALÉM DE TENSIONAR NOVOS CONTORNOS CONCEITUAIS PARA A ESCULTURA NA ATUALIDADE. OS ARTISTAS QUE PARTICIPAM DESTA EXPOSIÇÃO SÃO: AMILCAR DE CASTRO, ANNA MARIA MAIOLINO, ANTONIO MANUEL, ARTHUR LUIZ PIZA, CARLOS CRUZ-DIEZ, CARLOS FAJARDO, CARMELA GROSS, HÉRCULES BARSOTTI, IESUS SOTO, JOSÉ RESENDE, LUIS SACILOTTO, MIRA SCHENDEL, SERGIO CAMARGO, WALTERCIO CALDAS E WILLYS DE CASTRO. COMO NA MÚSICA ORQUESTRAL, HÁ NESSE PERCURSO MOMENTOS DE CADÊNCIA. É QUANDO UMA CERTA POÉTICA VISUAL É TEMA MELÓDICO EXECUTADO EM SOLO, NA DEMONSTRAÇÃO ELOQÜENTE DE TODA SUA POTÊNCIA AGENCIADORA DE FRUIÇÃO. UM FRAGMENTO DESSA POÉTICA PODE ENTÃO SALTAR E

ECOAR, COM OUTROS RESULTADOS, EM TRABALHOS PRÓXIMOS, PROPONDO UMA VISADA EM CONJUNTO. AGRUPAMOS, POR EXEMPLO, TRÊS DICÇÕES ARTÍSTICAS DISTINTAS ENVOLVIDAS NA ARTICULAÇÃO E DESDOBRAMENTO NO ESPAÇO DE UM MESMO ELEMENTO GEOMÉTRICO, O TRIÂNGULO. SACILOTTO, ARTHUR LUIZ PIZA E WILLYS DE CASTRO ESTABELECEM, CADA UM A SEU MODO, OBRAS QUE CONVIVEM EM HARMONIA. SACILOTTO CRIA TRIÂNGULOS VERMELHOS EM VERTIGINOSA ILUSÃO DE ÓPTICA FEITA DE COMPRESSÕES E EXPANSÕES VIRTUAIS DA SUPERFÍCIE PLANAR DA PINTURA. ARTHUR LUIZ PIZA DESTACA, RECORTA E ESPETA TRIÂNGUIOS NEGROS EM SUA SÉRIE ESCOVAS, DESDOBRADA COM FRESCOR NAS MALHAS METÁLICAS POVOADAS DE GEOMETRIAS DE SUAS PEÇAS RECENTES. AO LADO, NA DELICIOSA TELA DATADA DE 1959, WILLYS DE CASTRO CRIOU SINTÉTICA E RITMADA COMPOSIÇÃO DE TRIÂNGULOS COLORIDOS SOBRE FUNDO NEUTRO. HÉRCULES BARSOTTI, ADIANTE, DESDOBRA O TRIÂNGULO EM SEU DUPLO, O LOSANGO. UM DOS MOMENTOS EM QUE A COERÊNCIA DE OBRA SE MOSTRA DE MODO MAIS EVIDENTE É NO TRABALHO DE ANTONIO MANUEL, A MESMA ORTOGONALIDADE QUE ELE EXERCITA EM SUAS TELAS RECENTES, JÁ EXISTE NAS COMPOSIÇÕES DE SEUS ANTOLÓGICOS FLÃS (ANTIGAS MATRIZES PARA IMPRESSÃO TIPOGRÁFICA DE JORNAIS, FEITAS DE POLPA DE CELULOSE), PRODUZIDOS NOS ANOS 1960. ATRAÇÃO ADICIONAL É LER A MANCHETE E OS TÍTULOS CRIADOS, COMO POEMA VISUAL DE PROTESTO, PARA ESSA CAPA DO QUE PODERIA TER SIDO, SEM A CENSURA, A IMPRENSA DURANTE OS ANOS DE CHUMBO DA DITADURA MILITAR. A FRICÇÃO DA INDIVIDUALIDADE DO ARTISTA COM O ESPÍRITO DA ÉPOCA E AS TROCAS POSSÍVEIS A PARTIR DESSE ENCONTRO ESTÃO NA ORIGEM DE BOA PARTE DA HARMONIA VISUAL DESTA MOSTRA. A HERANÇA CONSTRUTIVA BRASILEIRA E SEUS DESDOBRAMENTOS FORNECEM A PARTITURA PARA A MAIOR PARTE DA ORQUESTRAÇÃO. HÁ OS CONCRETOS E NEOCONCRETOS HISTÓRICOS E TAMBÉM DESDOBRAMENTOS CONTEMPORÂNEOS DE ALGUMAS QUESTÕES AÍ LEVANTADAS. A ATENÇÃO COM O

ESPAÇO DE IMPLANTAÇÃO DA OBRA COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO DELA, ASSIM COMO A ANÁLISE DA VOCAÇÃO DOS MATERIAIS ARTICULADA AOS OBJETIVOS DO TRABALHO, VAI IMPREGNAR ANNA MAIOLINO, CARLOS FAJARDO, CARMELA GROSS, JOSÉ RESENDE E WALTERCIO CALDAS. O NEXO QUE COSTURA ESTA MOSTRA, PERCEPTÍVEL COM NITIDEZ MESMO NA GRANDE DIVERSIDADE DAS PERSONALIDADES ARTÍSTICAS DO ELENCO, NÃO SE CONFORMA ÀS CATEGORIAS TRADICIONAIS COMO PINTURA, ESCULTURA E DESENHO. É BOM LEMBRAR, ALIÁS, QUE TAMBÉM FOI A PARTIR DA GENEALOGIA E DA DESCENDÊNCIA VISUAL CONCRETA QUE ESSES LIMITES FORAM SENDO ROMPIDOS E HIBRIDIZADOS. É O QUE MOSTRAM OS GRAFISMOS DE MIRA SCHENDEL, POR EXEMPLO, FEITOS DE UMA MATÉRIA TÃO DELICADA QUE BEIRA O VOLÁTIL NÃO FOSSE SUA RIGOROSA ESSENCIALIDADE. MIRA ARTICULA-SE COM NATURALIDADE À VIBRAÇÃO ESPACIAL LEVÍSSIMA E PULSANTE, HORIZONTAL, DO TRABALHO DE JESUS SOTO, QUE POR SUA VEZ REVERBERA NAS VERTICALIDADES DE CORES CAMBIANTES DE CRUZ-DIEZ. A FORTE PRESENÇA FÍSICA DAS PEÇAS DE MÁRMORE OU FERRO DE SÉRGIO CAMARGO E AMILCAR DE CASTRO, POR EXEMPLO, CONTRASTA COM O OBJETO-QUASE-DESENHO QUE WALTERCIO CRIOU EM HOMENAGEM A RODTCHENKO. SITUADO NO CENTRO DO ESPAÇO EXPOSITIVO, LEMBRA AS INFLUÊNCIAS DAS VANGUARDAS RUSSAS DO INÍCIO DO SÉCULO PASSADO, RETRABALHADAS E EXPANDIDAS NOS TRÓPICOS. A HERANÇA CONSTRUTIVA, REVISADA À LUZ DA CONTEMPORANEIDADE, NÃO PERDE SEU CARÁTER FUNDANTE DO PARADIGMA MODERNO NO PAÍS. JÁ FOI HEGEMÔNICA, AGORA CONSEGUE CONVIVER E DIALOGAR COM A ATUALIDADE SEM SOBRESSALTOS, O QUE É MAIS SAUDÁVEL A TODOS. A DIVERSIDADE DE PONTOS DE VISTA É ESSENCIAL, SEMPRE.

 

ANGÉLICA DE MORES, MAIO DE 2005.

 

*Coletiva com os artistas Amilcar de Castro, Anna Maria Maiolino, Antonio Manuel, Arthur Luiz Piza, Carlos Cruz-Diez, Carmela Gross, Hércules Barsotti, Jesús Soto, José Resende, Luis Sacilotto, Mira Schendel, Sergio Camargo, Waltercio Caldas e Willys de Castro