tomie ohtake_
19 nov_ 1985 - 19 dez_1985
PARA TOMIE OHTAKE
Paulo Herkenhoff
Quase de relance, escrevo sobre Tomie. Um texto urgente mais que reflexão, é reação afetuosamente revelada. Toda obra de Tomie é recomeço e etapa na obra única: a pintura. A idade da razão constrói-se com cada quadro, de cada momento sensual. Há um tempo único que aprofunda esse mergulho sem rupturas. Densidade do tempo, depuração da matéria, história de artista. A arte de Tomie é a (re) criação diária do corpo pictórico. Toda sua obra é diversamente a mesma: o mergulho na matéria. A carne torna visível. Nasce o quadro. Viva a pintura. Pintar é viver uma aventura de sensualidade.
Em cada tela Tomie deixa rastros da temporalidade. Instância individual. Duração. História da artista. Cada camada de tinta é uma dimensão de uma estrutura maior de tempo. No pincel, Tomie faz e refaz sua pinura, constitui suas marcas, estabelece seu saber. Densa e opaca, a matéria na obra de Tomie se oferece ao tato, tem volume. É como se tivesse peso. Essa personalidade sensorial de sua pintura afasta Tomie de Rothko, libertos dos esquemas formais semelhantes e mais imediatos. Ela é – suficientemente- Tomie…
Sutil e vigorosa elegância da matéria. Entre a economia e a expansão da cor. Entre a mancha e o plano. Entre textura e a superfície. Entreolhar: prazer tátil e razão. Tomie rege a matéria. Permanência. Sempre foi e será assim. “Porque você não é parte, mas um todo. Não é parcela, mas um ser” (Ezra Pound, Ortus). Na intermediação da matéria. A emergência dos planos que se entrecruzam. História da obra. Arquelogia e iluminação do olhar. As camadas de pintura apostas permanecem visíveis. Signos do fazer. Presença, mais que memória. A matéria forma a cor, a forma, o espaço. Forma o quadro e forma o mundo no teatro do tempo. Reino de Tomie.