silvia mecozzi_mera esfera espera espinho
09 jun-2004 - 17 jul_2004
Tento nomear meus trabalhos muitas vezes.
Procuro palavras que possam conversar com imagens.
Recurso desesperado contra o silêncio que nos invade
cada vez que tentamos exprimir a experiência que nos rodeia.
Sobreposições de mim… do outro…
do que o mundo causa em mim.
Na caixa-atelier, livros, papéis, tinta, materiais diversos,
ferramentas, música, tudo espalhado pelas mesas.
A obra vai brotando nas entrelinhas, criando corpo, se
ordenando, se nutrindo pouco a pouco, em cadeia.
Um ponto, uma seqüência de pontos, uma linha… pontos de contato.
Um elo que se assemelha ao precedente e ao seguinte.
De círculos em círculos, prosseguem.
Convivo com essas ações silenciosamente. Vai ficando o substrato.
Li em algum lugar que “a realidade serve para fixar os sonhos”.
Quando recomeço a tocar, manusear, ofender a matéria,
ela provoca em mim um estado de suspensão, surpresa,
curiosidade pelo desconhecido, esse conhecido
estranhamento que me põe a pensar, agir, tentar instaurar
um outro lugar, fazer surgir uma paisagem para
aquietar o doloroso ruído externo do mundo.
Lugar rigoroso, um inóspito refúgio para a alma…
Fundar um quase silêncio marinho em solo deserto…
Vida suspensa…
Mera esfera se ouriça e espera.
Silvia Mecozzi, junho 2004