rigor da forma_ liberdade da cor
03 mar - 30 mai _2021
Sete anos depois de sua primeira individual na Raquel Arnaud, Ullrich volta à galeria com seus relevos monocromáticos e uma série de trabalhos mais antigos, uma amostra de seu percurso de exploração da pintura para além do quadro, produção em que cálculo e ilusão não são opostos, como indica Suzana Velasco em seu texto para a exposição.
Conforme escreve a jornalista e escritora, entre as obras mais recentes, compostas como uma sinfonia no primeiro andar da galeria, e desenhos e trabalhos mais antigos no segundo andar, Rigor da forma, liberdade da cor é resultado de planejamento conceitual e de um árduo trabalho manual de precisão. Velasco observa que além disso, a ideia de uma forma, calculada e projetada, nunca será igual à matéria no espaço, e o modelo para uma exposição de Ullrich nunca será igual ao conjunto de obras apresentadas, que depende da composição do artista no local. “A arte construtivista ou a geometria não são suficientes para descrever a obra de Ullrich, que é estática apenas no papel. Há que se deixar as palavras e as imagens de lado e caminhar pelas formas e cores, experimentando cada uma, em sua velocidade e ritmo próprios, a liberdade que só o rigor pode propiciar”.
Desde o fim dos anos 1980, o artista desafia a bidimensionalidade da pintura, primeiramente por incisões ou por dobras que fragmentam o plano. Na exposição, como sugere Velasco, ele inclui peças em aço corten e relevos menores, dos anos 2000, que prenunciam a virada, na década seguinte, para as criações que radicalizam o jogo com a representação pictórica e a sugestão de deslocamento no espaço.
Tradicionalmente com uma obra marcada pelo ângulo reto, em Rigor da forma, liberdade da cor, o artista traz formas elípticas, Órbitas, com as quais vem trabalhando nos últimos quatro anos. “Compostas em polípticos, elas são como círculos em movimento, criando elipses que parecem dançar entre si, numa constelação flutuante”, destaca o texto. Já os relevos retangulares, mesmo não tendo as curvas das Órbitas, também carregam a ideia de fluxo e tensionamento entre partes que se dobram no espaço.
Por sua vez nos desenhos, o artista descobre novas formas em carvão e nanquim ao criar movimentos também marcados por atração e fuga. “Mais gestuais, experimentais, eles traçam trajetórias no espaço, evidenciando o compasso ritmado que, em seus relevos, depende da relação entre obra e espectador”, completa Velasco.