gesto e estrutura_
13 jun_1989 - 31 jul_1989
O caráter instável, urgente, das estruturas modernas, o aspecto prontamente reflexivo e problemático dos gestos atuais, eis a razão de ser de Gesto e Estrutura. Em seu âmbito modesto e circunstancial, a exposição pretende incitar à experiência estética dos ensaios de ordem contemporâneos e do drama do Eu, as dúvidas sobre a eficácia e o alcance de seus gestos em face da objetividade da ciência. Evidentemente, a reunião de alguns poucos trabalhos de seis grandes artistas não visa demonstrar, muito menos ilustrar, nenhuma tese, Só nos trabalhos, justamente, a questão aparece em sentido pleno e permite discussão, Na inevitável e ambígua margem que separa e une verbo e percepção: o silêncio imposto pelo fato plástico desafia o raciocínio discursivo e provoca uma pergunta que transita, incessante, entre o deslumbre e a perplexidade do olhar e a necessidade compulsiva da fala . Como sempre, a arte tende a relativizar as pretensões à Verdade: surgem, isto sim, momentos intensos, fragmentos de verdades, a serem captados na evidência singular de cada trabalho.
A idéia seria, portanto, armar um campo plástico a partir da interpenetração, materialmente perceptível, de certas articulações construtivas com a dispersão de gestis que tomam literalmente de assalto a superfície da tela. Entre outras coisas para mostrar também o “gesto” que pulsa em aberto no próprio desejo de ordem; e a ânsia estrutural, a busca sôfrega do Todo, que move os gestos mais intempestivos. Procurando acompanhar o dilema em seus vários registros – seja na polarização dos dois princípios ao longo de uma mesma obra, na sua mistura e indiferenciação em certo trabalho específico ou no confronto direto entre duas poéticas divergentes. A conjunção e pode assinalar assim tanto o antagonismo quanto uma eventual coincidência ou até resolver-se na fusão efetiva de gestos e estruturas.
De saída, naturalmente, todas essas complexas modalidades da questão tornam inócuas divisões mais ou menos escolares – por exemplo, a polêmica entre Geométrico e Lírico. O decisivo vem a ser a exigência de um embate estético frontal ao mesmo tempo mais fluido e mais rigoroso, capaz de articular e rearticular ininterruptamente – avaliando inclusive imponderáveis como qualidades e densidades – os nexos entre o tempo das obras de arte e o tempo histórico.
Ronaldo Brito
*Coletiva com os artistas Amílcar de Castro, Antônio Dias, Eduardo Sued, Iberê Camargo, Jorge Guinle e Mira Schendel