geométricos e cinéticos_

19 mai_2002 - 24 jun_2002

geométricos e cinéticos_

A trajetória do Gabinete de Arte Raquel Arnaud e marcada por uma atenção especial

às investigações da arte contemporânea aliada a uma escolha histórica: a arte construtiva e cinética. Esta linha é uma opção estética que faz parte da minha vida profissional e pessoal – dois lados da minha existência integrados na arte. Não sou eu que vou julgar esse caminho que tracei ao longo das últimas décadas, mas aos colecionadores, aos críticos e ao público da arte cabe verificar em que medida um esforço – que investiu na coerência e o rigor – pôde ser traduzido numa inserção no mercado de arte prestando um efetivo serviço à cultura.

Dando continuidade a esse trabalho projetei essa exposição que é aberta no momento em que se inaugura a 25a Bienal de São Paulo. Trata-se da apresentação condensada desses valores que marcaram um dos momentos mais elevados da história da arte no

Brasil e na América Latina.

 

Dos geométricos brasileiros que integraram os movimentos concreto e neoconcreto, estaremos destacando algumas obras dos anos 50 e 60: Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto, Waldemar Cordeiro, Hércules Barsotti, Willys de Castro, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Milton Dacosta, Franz Weissmann e Amilcar de Castro.

 

À essas obras, enriquecendo o diálogo existente na exposição, ressaltam os trabalhos dos nossos artists fiéis à tradição construtiva: Sergio Camargo, Eduardo Sued,

Antonio Manuel, Waltercio Caldas, Mira Schendel e Arthur Luiz Piza

 

No setor dos cinéticos Abraham Palatnik, Le Parc e Soto precederão uma sala especial dedicada ao homenageado da Venezuela na Bienal que é Cruz-Diez

.

Nessa área, mostraremos experiências mais recentes de Carlos Cruz-Diez que, incorporando a informática à arte, apresentará um projeto fascinante. Trata-se de um novo conceito em que o expectador está participando profundamente da obra do artista. Numa programação feita em software existe um processo “da obra manipulável à interativa”, igual a uma partitura musical onde o intérprete entra na estrutura e no espírito do músico que a compôs. No final, imprime o testemunho do que pode interpretar, como o pianista que escuta a gravação do que acaba de interpretar. As obras projetadas sobre a parede poderão ser permanentes ou efêmeras, conforme se queira. O suporte varia, Poderá ser o papel d’Arche, a tela, o papel plastificado, o plástico rígido ou a madeira e ser fixado na parede com uma fita de contato. As obras não têm dimensões pré-estabelecidas: o colecionador as escolhe. Todas as obras são digitais e podem viajar para qualquer parte do planeta, sem custo de transporte ou seguro. Sem prejuízo de sua inteligente linguagem, Cruz Diez sabe como poucos incorporar os avanços tecnológicos à pesquisa artística.

 

Apesar de algumas importantes ausências, estou segura que essa exposição, pelo conjunto que reúne, vai além de um depoimento pessoal sobre minha visão estética,

podendo contribuir para que jovens e visitantes estrangeiros da Bienal entrem pela

primeira vez em contato com um dos ricos capítulos da história da arte.

 

Caso essa trajetória ficasse circunscrita ao espaco do Gabinete de Arte, sua dimensão

pública seria limitada. Por isso tive a iniciativa – com o apoio de um grupo de amigos –

de criar o Instituto de Arte Contemporânea – lAC, instituição cultural que, ao contrário da galeria, não tem fins lucrativos. Graças ao apoio da Universidade de São Paulo, o lAC

será instalado em regime de comodato no prédio histórico da rua Maria Antonia, a antiga Faculdade de Filosofia.

 

A área do edifício a ser ocupada pelo lAC encontra-se em processo de restauração e

será inaugurado com um núcleo inicial de obras de Sergio Camaro, Mira Schendel e

Willys de Castro. Através de seu banco de dados, divulgará um importante segmento

da arte contemporânea brasileira, ainda impossível de ser visitado nos museus.

 

Com o lAC dou continuidade, com satisfação, a um trabalho que a galeria não

poderia realizar completamente: legar à sociedade um espaço que lhe pertence

para conhecer e pesquisar a arte contemporânea brasileira.

 

Raquel Arnaud

São Paulo, março de 2002.

 

*Coletiva com os artistas Sergio Camargo, Carlos Cruz-Diez, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Milton Dacosta, Alfredo Volpi, Waldemar Cordeiro, Franz Weissmann, Luis Sacilotto, Willys de Castro, Geraldo de Barros, Hércules Barsotti, Amilcar de Castro, Mira Schendel, Eduardo Sued, Arthur Luiz Piza, Antonio Manuel, Waltercio Caldas, Julio Le Parc, Jesús Soto e Abraham Palatnik

imagens da exposição