felipe pantone_ movimento e transformação no tecnoceno

06 fev_2025 - 22 mar_2025

felipe pantone_ movimento e transformação no tecnoceno

Felipe Pantone: Movimento e transformação no Tecnoceno

 

“Procurei oferecer aos humanistas uma análise detalhada de uma tecnologia suficientemente magnífica e espiritual para convencê-los de que as máquinas que os cercam são artefatos culturais dignos de sua atenção e respeito.”
Bruno Latour (Aramis, ou o amor pela tecnologia)

 

A transformação pode ser infinita. Em uma era em que a estabilidade se apoia na ideia da transitoriedade do mundo, o conceito de Tecnoceno se coloca diante de nossos olhos e aponta para um momento em que as relações entre humanidade, tecnologia e natureza se entrelaçam, tornando-se centrais e moldando os processos ambientais, sociais e culturais de maneira extensa e contínua. Tal movimento encontra a contemporaneidade na fluidez da luz, da cor e da sensorialidade proposta pela fusão entre o digital e o físico, que desenvolve novas possibilidades do ser e da matéria, propondo, assim, reflexões sobre o tempo e suas diferentes dinâmicas. Esse encontro singular é um dos pilares da produção do artista visual Felipe Pantone e aparece de maneira instigante em “Movimento e transformação no Tecnoceno”, sua primeira mostra individual no Brasil, na Galeria Raquel Arnaud.

A prática do artista argentino radicado na Espanha está enraizada na ideia de transmutação e efemeridade dos sentidos, refletindo sobre como a tecnologia molda a perceção e a interação humana com o mundo. Com o intuito de transcender as fronteiras entre o tangível e o virtual, utiliza-se de materiais diversos, de tinta a PMMA, passando por telas digitais, espelhos, superfícies reflexivas, alumínio, ferro e spray. A este último remonta o início da trajetória de Pantone, que criou tal pseudônimo atrelado à sua entrada, aos 12 anos, no universo do grafite – que pulsava de forma vertiginosa na década de 1990, como parte do movimento vinculado à arte pública e em constante diálogo com a cidade.

O interesse pela cor e pelo movimento rapidamente levou Pantone a se associar ao movimento da arte cinética e à op art, e a estar em contato com mestres da luz e seus fenômenos, como o venezuelano Carlos Cruz-Díez (1923-2019). A influência desse cruzamento e o interesse em explorar a desmaterialização da cor e seus efeitos instigaram Pantone na criação de obras baseadas na cromossaturação e na independência da cor da forma física, incitando um processo de manipulação de luz, movimento e interatividade, como pode ser observado na série Chromadynamica, presente na atual mostra. Assim como Cruz-Díez, Pantone propõe que a arte seja uma experiência ativa para o espectador – e vai além, expandindo a abordagem do movimento artístico à contemporaneidade ao incorporar elementos digitais.

A relação entre virtual e humano e suas interatividades no campo físico também ficam claras em outra série, Subtractive Variability – baseada no modelo de cores subtrativas (CMYK – ciano, magenta, amarelo e preto). Ao sobrepor essas cores em diferentes intensidades e padrões, o artista cria efeitos visuais quase hipnóticos, que mudam de acordo com a perspectiva e a luz. Seu dinamismo permite que tais criações sejam movimentadas, dando ao observador a possibilidade de alterar as composições. Esses efeitos dinâmicos, evidenciados pela produção de Pantone, se estendem também para dois trabalhos inéditos desenvolvidos para esta exposição, ambos parte da série Planned Iridescence, que simulam a iridescência – fenômeno em que as cores se modificam dependendo do ângulo de visão e da iluminação.

Assim como a obra pode mudar constantemente, nossa percepção do mundo também é mediada e transformada pelas tecnologias digitais e pelas novas realidades que elas criam. A mostra torna-se, assim, um convite a refletir sobre a fluidez na identidade e na percepção do mundo, em seu caráter efêmero e fragmentado, que compõem a experiência na vida contemporânea.

Ana Carolina Ralston
curadora