daniel feingold _ estruturas e pinturas
08 nov - 26 jan_2019
A Galeria Raquel Arnaud encerra as atividades em 2018 com uma exposição de pinturas de Daniel Feingold, comemorando os 25 anos do artista em seu elenco. Em diferentes suportes, escalas e materiais, o pintor carioca apresenta um conjunto de obras que estabelece narrativas construtivistas entre o espaço e seus desdobramentos, planos cromáticos e suas dobraduras, revelando um jogo pictórico fundamental à compreensão da poética do artista.
No térreo, Feingold exibe uma seleção com cerca de sete obras da série “Estrutura”. São pinturas em grande formato realizadas com esmalte sintético sobre terbrin. O esmalte sintético, tinta de matéria espessa e de resolução direta e rápida, é utilizada pelo artista desde o início da década de 90, quando ganhou uma bolsa de estudos do governo brasileiro para fazer o mestrado no Pratt Institute, em Nova York. Curiosamente, foi numa exposição na Galeria Raquel Arnaud, em 1998, a primeira vez que Feingold apresentou seus trabalhos com esse material.
O uso do esmalte sintético se opunha à pintura diáfana produzida até então. A ambição pela estética da pureza, segundo o artista, deu lugar à busca por uma unidade pictórica que parte do que o crítico Luiz Camillo Osório chamou de “acaso controlado”. Daniel Feingold não usa pincel. Seu método consiste em escorrer o esmalte sintético do topo das telas através de uma lata com um bico na parte superior. É o gesto de sua mão que vai determinar a quantidade de tinta despejada para tentar conduzir aquilo que é incerto. A pintura ocorre nesse processo original, onde a geometria ao mesmo tempo organiza e confunde o olhar, criando um jogo óptico no qual não se consegue distinguir figura, fundo ou mesmo os limites das linhas criadas pelo escorrimento.
Segundo Paulo Sergio Duarte, que assina o texto da exposição, “Há toda uma paciência e uma espera. Há um tempo contido em cada linha de cor que se derrama sobre a superfície. Quando o vemos, parece congelado, mas não está; essa queda de cada linha, em direção ao limite do quadro, nos transmite um lento sentir que nos penetra e nos ensina a não aderir aos sôfregos apelos do cotidiano”, afirma o crítico.
Já no piso superior estão trabalhos em pequena escala, a maioria produzida em 2018. São cerca de 12 obras da série “Pinturinhas”, realizadas em bastão a óleo sobre tela e mais 12 desenhos em bastão a óleo sobre papel. Segundo o artista, essas obras são uma espécie de reação subjetiva ao comportamento sempre objetivo do esmalte industrial. Uma necessidade de criar situações estéticas mais afetivas com uma matéria clássica, a tinta à óleo, que se opõe completamente ao caráter industrial do esmalte sintético. Se nas “Pinturinhas” o que interessa é a liberdade pictórica e cromática, a convulsão e permissão ao erro no gesto realizado com o bastão, nos desenhos o que se vê é uma continua exploração acerca das formas. São obras de organização mais contida, concretas, que revelam como a formação de arquiteto permite pensar a arte de uma forma não desconectada da arquitetura e do design.