cassio michelany_o ritmo da cor

08 mar_2008 - 05 apr_2008

cassio michelany_o ritmo da cor

O RITMO DA COR | Cauê Alves

 

As relações entre o branco e as cores nos relevos inéditos de Cassio Michalany produzem um ritmo particular. Nos dois formatos de relevos as cores se tornam tridimensionais e se lançam para fora do plano. Mesmo que sua presença espacial não seja acentuada, as ripas brancas e as de tom azul, verde ou cinza projetam sombras sobre as placas que se

sucedem como compassos musicais.

 

O modo como os relevos foram montados na exposição – e isso foi uma decisão exclusiva do artista – faz com que as ripas coloridas ora se aproximem, ora se distanciem umas das outras. Isso acontece porque o espaço branco, tanto o interno de cada trabalho, como o intervalo entre um trabalho e outro, forma uma seqüência que possui cadência própria. O artista utiliza um padrão rítmico que, como num jazz, articula brancos, notas musicais fracas, que se prolongam no relevo seguinte até uma nota forte, um tom colorido que marca o tempo do compasso. Essa acentuação rítmica deslocada faz com que o silêncio se prolongue de modo variável entre um relevo e outro.

 

Além de lidarem com a profundidade própria do relevo, esses trabalhos envolvem todo o espaço ao seu redor, especialmente os laterais, e adquirem também uma dimensão temporal. A escala cromática foi montada para que nunca uma ripa colorida esteja próxima de uma idêntica a si mesma, o que permite que estabeleçam entre elas um contato que subverte a própria regularidade. A disposição dos trabalhos obedece a um critério que intercala duas ripas brancas com duas coloridas, sem qualquer monotonia ou repetição, tendo um início e um fim que poderiam se encontrar caso a estrofe fosse tocada novamente.

 

Importa menos as próprias linhas de cor do que as relações cromáticas e temporais que elas estabelecem com os brancos e o entorno dos relevos. Por isso as superfícies brancas têm duas distâncias em relação à parede, sendo a parte central mais saltada, o que interfere substancialmente nas pausas e ênfases do trabalho.

 

A escolha rigorosa da paleta dos relevos ecoa os tons das três pinturas de superfícies regulares e monocromáticas apresentadas. Assim como em cada uma das séries de relevo, as pinturas são de tamanhos diferentes. Enquanto a altura é a mesma, 160 cm, o comprimento das telas varia de acordo com a medida dos quatro chassis parafusados. Isso ocorre devido a uma permutação entre diferentes formatos: 55, 65 e 80 centímetros. Talvez fosse matematicamente natural que o maior medisse 75 cm, mas a própria escolha das dimensões já implica o abandono de algum princípio regulador. Os formatos das pinturas resistem a qualquer geometrização que se queira dar conta de seu sentido.

 

A experiência que esses trabalhos proporcionam, assim como ocorre com a música, por mais matemática que seja sua estrutura, jamais poderia ser substituída pelo pensamento. A impossibilidade de reduzir o trabalho de Cassio Michalany a algum exercício racional é confirmada na combinação entre os três tamanhos de chassi. A articulação deles forma um ritmo que parece ser exigido pela cor, como se cada uma das telas, assim como os relevos, fizesse soar baixinho uma música cujo ritmo sincopado elas mesmas inventam e propagam

para o mundo.