carlos cruz-diez_a cor no espaço

22 mai_2006 - 28 jul_2006

carlos cruz-diez_a cor no espaço

A COR NO ESPAÇO As artes visuais sempre forneceram, em diversos momentos de sua história, preciosos meios de investigação na trama luminosa do mundo e constituíram, em relação à cor, um conjunto de conhecimentos, tanto teóricos quanto empíricos, que acompanha, e às vezes até mesmo antecipa, aqueles estabelecidos pela ciência.

 

Carlos Cruz-Diez, incontestavelmente, se inscreve nessa longa linhagem de artistas e pensadores, de Goethe a Kandinsky, Albers, Itten e a tradição pedagógica da Bauhaus, que, passando pela tentativa de racionalização do neo-impressionismo, desenvolveu, ao lado da pesquisa científica, o modo sensível e intuitivo da própria pesquisa: “uma outra relação de conhecimento”, citando as palavras do artista. Cruz-Diez não nega pertencer a tal linhagem, muito pelo contrário, afirmando várias vezes: “Como todos os pintores da minha geração, sou um descendente direto do impressionismo, do cubismo, do fauvismo e do construtivismo”. Essas declarações recorrentes assimilam, no entanto, a tradição impressionista e neo-impressionista da “pintura óptica”, como Félix Fénéon já a denominava, uma expressão redundante, mas que traduzia, de forma precoce, a convicção

tipicamente modernista, segundo a qual as artes visuais realçam prioritariamente o olhar, e a pintura propõe, antes de mais nada, fatos de âmbito visual.

 

Mais tarde, o crítico de arte Jean Clay reforçará a posição histórica de Cruz-Diez, ao situar sua contribuição ao termo daquilo que identifica como “as três etapas da cor moderna”, que teriam propiciado a passagem do papel puramente descritivo da cor à descoberta de seu próprio poder de expressão, e à sua completa autonomia no seio de estruturas de funcionamento aberto e aleatório, em que o artista conserva, na cor, sua natureza fenomenal, perpetuamente cambiante e indeterminada.

 

Nas condições particulares da prática artística, nas quais a pesquisa fundamental e a aplicada não se distinguem entre si, e – melhor ainda – se mesclam e se sustentam no mesmo movimento criador, Cruz-Diez terá assim construído uma estrutura que reflete um novo estado no conhecimento dos fenômenos lumino-cromáticos, deixando à disposição do observador as ferramentas cognitivas e sensitivas – ou seja, as obras – que permitem reconduzir perpetuamente essas investigações. Exorbitante privilégio da obra de arte que, no fluxo dos fatos históricos assimilados assim que vividos, propõe uma ordem de fatos tangíveis que possuem, sempre, a incrível faculdade de se entregar, aqui e agora, à experiência direta: as obras de Cruz-Diez continuam assim, muito tempo após sua criação, provocando “situações reais”, que exaltam, em seus termos, “o fenômeno da cor em si” e o glorioso acontecimento que constitui toda epifania cromática. ARNAULD PIERRE