anna maria maiolino_muitos e codificações matéricas
21 jun_1995 - 29 jul_1995
“ Esses produtos marcam a instauração de um mundo, a separação entre natureza e cultura. Surgem das possibilidades de um mesmo gesto, de uma mesma operação, facilmente transmissível como os sons de uma linguagem que se inicia. Encontramos, entnao, o sentido originário da repetição. Poderíamos estar diante de uma experiência antropológica, ou melhor, de um ato antropológico experimental, se fosse possível reviver agora aqueles momentos fundamentais, não com a faculdade de intelecto na sua plenitude, mas nos simples gestos manuais, na apreensão inicial da matéria e na sua transformação significativa. Momentos de espanto, de realização e comunicação, da construção do artefato que nos distingue e humaniza. Surge um primeiro conceito em forma de matéria, um conceito-argila, concreto, tátil, instituído por nós mesmos e, portanto distinto da natureza. E também – por que não? – uma forma de linguagem, um objeto linguagem, codicilli, unidades matérias de comunicação, de troca de significados.”
Trecho do texto “ A Mão Que Faz” de Paulo Venâncio Filho
para instalação da Exposição Itinerante, 1995.
“(…) Ali, a experiencia direta e manual com a tinta e o papel resulta mais como uma intergração corporal do que como se eles constituíssem apenas uma continuação ou umja reação formal ao gesto, ou como se foseem a simples afirmação de sua própria e independente materialidade.
Quando Anna Maria Maiolino explica as viagens pseudo-aleatórias de suas gotas de tinta pelo papel, dizendo “ eu e elas nos entendemos na intimidade do fazer…” o que ela revela não é somente a obediência da matéria á suas pulsões de artista. E sim, também, uma espécie de fusão entre a sua vontade e as imposições do material escolhido, uma união onde não se sabe em que parte termina uma e começa a outra.
O fato é que os trabalhos recentes de Anna Maria Maiolino são evocações poderosas, sensuais, dos mistérios efêmeros da terra. E é por meio do ritualismo e do despojamento com que elabora suas formas rudimentares e arcaicas, que ela nos oferece um espelho metafórico dos aspectos transitórios, cíclicos, seriais – criativos e destrutivos – da nossa própria existência”
Trecho do texto “ O Espelho Metafórico de Uma Experiência” de Sheila Leiner para exposição realizada na Galerie Debret, Paris, 1995