tuneu_pinturas
19 jun_1999 - 16 jul_1999
SOBRE AS PINTURAS ATUAIS DE TUNEU
Tadeu Chiarelli, 1999
Observando a pintura de São Paulo, dos anos 30 até o presente, percebe-se que a construção de uma cultura visual específica – engendrada pelos nossos artistas proletários (Volpi, Rebolo, Bonadei, etc.) – teria sofrido um abalo aparentemente fatal, com a emersão do concretismo, nos anos 50. Ativíssmo, obcecado em firmar-se em seu engendramento com a modernidade da metrópole, o concretismo parecia um terremoto destruindo aquela pintura anterior, que a pretexto de recriar a cidade e seus arrabaldes, formulava uma visualidade característica. Uma visualidade fundamentada no respeito aos valores plásticos consagrados pela tradição pictórica, na construção de cada obra como espaço para sutis definições de pintura, entendida como silencioso equilíbrio entre formas e cores moduladas em tons discretos.
Passado, no entanto, o tremor concretista, inicia-se o curioso fenômeno de contaminação entre a tradição pictórica dos anos 30/40, e a ruptura dos concretos. Primeiro foi Volpi que, como ninguém, conseguiu unir a sabedoria operária de sua pintura anterior, à potência construtiva. Depois, ou logo em seguida, foi Barsotti, que fincou uma verdade construtiva no universo sutil da tradição. Depois, Fiaminghi…
Mais recentemente, vivencia-se em São Paulo um conjunto de artistas mais jovens, cujas obras sintetizam muito bem aquilo que, se um dia foi contaminação aparentemente impensável entre duas correntes opostas, hoje se manifesta como realidade plástica incontestável. E é nessa realidade que se insere a pintura de Tuneu.
Nas obras agora apresentadas no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, o preenchimento das áreas demarcadas em formas geométricas, obedece aos rigores construtivos de romper com a dicotomia figura-fundo. No entanto, na maioria delas, uma forma quadrangular parece querer sempre desvincular-se dessa regra meticulosa, projetando-se como figura, para fora (e para frente) da área previamente demarcada.
Resultado: sensação de movimento que resgata, de maneira crítica e irônica, a tradição cinética de concretismo, pela insinuação de uma figura que jamais se realiza plenamente como tal…
No entanto, além dessa crítica aos rigores do concretismo, (vinda diretamente “de dentro” de suas teorias), o que faz a pintura atual de Tuneu tornar-se síntese autônoma daquelas duas tradições que marcam tanto a cultura visual da cidade é, certamente, o uso das cores em tons muito rebaixados. Elas emprestam alusões difusas àquelas áreas tão demarcadas, criam um clima de profunda melancolia à certeza geométrica onde estão encerradas… Juntam Rebolo a Geraldo de Barros, Maurício Nogueira Lima a Bonadei, Volpi a Volpi…