tunga_

10 jun_1981 - 04 jul_1981

tunga_

É flagrante: estamos diante de obras divididas. Divididas porque duvidantes. Fisicamente até, desdobram-se, fragmentam-se na impossibilidade de serem pura e simplesmente uma. A sua realização depende de sua demonstração: coincidência infeliz. Cada obra remete com premencia ao projeto geral do trabalho, mas este não existe fora delas, nem compõem um sistema organizado. Daí o drama- ação e reflexão se misturam nesses objetos de modo inextricável. Visivelmente não resultam da aplicação de um método. Visivelmente também não operam intuitivamente no contato mais ou menos sábio com os materiais. Com esforço analítico constroem o abismo de sua presença. A rigor, de sua ausência, cada peça se resume quase ao resto, resíduo pensante e latejante, do processo que a produziu. Produzir significa aqui sobretudo reduzir, cortar, eliminar. A obra pronta é um paradoxo: a soma de suas subtrações.

Contra as primeiras impressões, há uma vontade de clareza radical. Clareza cortante. Os gestos que fazem o trabalho estão quase explícitos em seu corpo; todos os componentes conservados; as relações praticamente divulgadas. O que se olha, logo de saída, é o próprio processo de produção com seus vários momentos- ali estão a massa de onde resulta e as marcas que determinam sua forma. O todo e suas partes. Em conflito, porém, as partes resistindo e desafiando o Todo. O trabalho gira sempre sobre si mesmo, desconcentrado, descogitado. As partes se estranham e, juntas, materializam uma inquietante figura. Uma figura deliramente lógica.

E a questão não é simplesmente decifrá-la e sim experimentá-la.

 

Ronaldo Brito