julio villani_ alinhavai
15 jun - 17 ago_2019
Como se orientar no labirinto gentil de Júlio Villani? Deve haver maneiras e maneiras, é claro, mas uma delas talvez consista em inverter o método de Ariadne e seguir um fio não para sair, mas para entrar, sempre mais, no coração deste dédalo de obras de aparência muito diversa. Pode-se puxar um dos fios bem materiais que o artista contrabandeia de outros domínios: fios de costura ou de bordado, barbantes e tirantes, correias e arames, às vezes acompanhados de fusos, carretéis ou bancadas que sugerem máquinas de costura; em todos esses casos, fios provenientes de práticas vernáculas que Villani simultaneamente incorpora e desloca. Ou pode-se optar por seguir o curso destes fios sem espessura que são as linhas traçadas na superfície do papel ou da tela, pista que nos levará ao desenho como gesto fundamental da obra de Villani, pouco importa se bi ou tridimensional. Com um reparo, porém: o desenho não é, aqui, o gesto tradicional, demiúrgico, de gerar criaturas a partir da matéria informe, da tela ou da folha em branco. Os fios e linhas que Villani traça (estica, pendura, estende) servem antes para ligar (vincular, amarrar, enlaçar), para sugerir constelações de seres, formas, regiões da experiência que pareciam apartadas até então. Constelações, não construções: avessas às hierarquias, elas são movidas pela memória e pelo erotismo, que não se fazem de rogados para alterar dimensões e finalidades, desalinhar o alinhado, converter a escrita em desenho, redimir os restos das coisas, conferindo-lhes uma nova vida, ao mesmo tempo instável e superlativa – muitas vezes, literalmente pendurada por um fio. A operação é complexa, e adivinha-se, atrás de cada “sacada” ou “trouvaille”, um longo processo de síntese. Síntese de um aprendizado artístico que vem do surrealismo e passa pelas novas vanguardas dos anos 60 e 70, mas que vem e passa igualmente por uma recuperação de certa arte brasileira e de um passado tanto íntimo como interiorano; síntese, finalmente, do menino de Marília com o artista de Paris. Pensando bem, para que sair do labirinto, onde há tantas portas ainda por abrir?
Samuel Titan